segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A desagregação social no Brasil

A ignorância do povo é o suporte do sistema na sua estratégia secular de conduzir as massas populares como se fosse impotente em resolver efetivamente os conflitos resultantes das relações sociais. A iniquidade governamental, é notório, não atinge o cume da pirâmide social. Antes lhe é aliada contra os interesses daqueles que estão fora do círculo vicioso do poder temporal, notadamente nos países pobres ou emergentes.

O grupo que detém o poder econômico, em sua promiscuidade com o poder político, sempre resistiu às mudanças sociais impondo exclusões. Pobreza e degradação humana são os resultados mais perversos de uma nação injusta. Todos os deveres da lei (inclusive fiscal) são para os pobres, embora os direitos nem sempre. A teoria do sistema, aplicada até nas “democracias”, diz que os cidadãos privilegiados devem ficar imunes às consequências da degradação da sociedade, por isso os setores de repressão devem funcionar exemplarmente. Mas a hipocrisia permite que se diga que a preocupação real é com o povo.

O descaso quanto à efetiva consolidação do estado de direito é tão arraigada na nossa cultura que se sacrifica a dignidade e o bem estar dos trabalhadores comuns – matéria prima do desenvolvimento da nação - pelo lucro especulativo das elites. A questão abrange a qualidade de vida nas cidades, a degradação ambiental – com a invasão de mangues para moradia, o surgimento de favelas, o desemprego, a mendicância, as hordas de doentes, o aumento da criminalidade. Tudo isso gera um retorno desagradável e perigoso para todos. Causa uma instabilidade social, a vulnerabilidade – em todos os sentidos - do cidadão, a impotência do Ser diante da sua realidade. Este Ser, base e objetivo do pacto social no sentido mais nobre de sociedade: igualitária, justa e fraterna.

As gritantes desigualdades sociais desgastam a democracia, relegando a própria condição humana e redundam numa traição histórica. Aliado à corrupção alimentam a miséria, que gera a degradação social. Enquanto se der prioridade aos acontecimentos secundários e não às causas, há de se promover as mazelas a todo o corpo social, quando se pensa que o faz apenas aos seus membros menos ilustrados. A elite não pode viver sem contato com a plebe da qual, inclusive, de certa forma tende a tornar-se refém, caso semelhante ao do feitiço que se vira contra o feiticeiro.

Os jornalistas, os professores, os políticos idealistas, os escritores são importantes instrumentos para que possamos repensar todas essas questões a partir dos diversos prismas no interesse de nos conscientizarmos sobre a nossa realidade e perspectiva. Como disse o escritor Ernesto Sábato, “Pode haver um confronto de ideologias, mas não uma crise de ideias... assim como nada justifica a tortura, nem que as crianças morram de fome”.

1985

Alberto Magalhães
Imagem: tela de Tarsila do Amaral/Fonte: internet

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