quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O que é o amor

O amor é um sentimento pleno, não só uma emoção circunstancial existente em momentos especiais. O amor é o se esvaziar de si e encher-se do outro.  É encher o outro de cuidados e ensinamentos práticos do ser melhor a cada dia. E esvaziá-lo da carência de ser querido, dizendo, sem as palavras: você é importante aqui dentro de mim.  O amor pleno renuncia ao egoísmo, nega-se ao individualismo, joga fora as dúvidas. O amor não tem pressa. Amar é o se dar sem o interesse imediato de retorno. É doar um amor digno, decente, virtuoso para que quando ele fizer eco no outro ser volte da mesma forma: inteiro, transparente, superior. 

O amor tem ternura nos olhos, carinho na voz, amparo nos gestos e compreensão nas falhas. O amor é água para o sedento, pão para o faminto, agasalho para o corpo frio, consolo para o desalentado, resposta para o coração humano. A fé traz o amor, a esperança o fortalece, a doação o faz soberano. Na casa do desamor o pão não tem bom sabor, a lareira não dá o calor adequado, o vinho não alegra. A vida é insípida. No final do tempo o sábio inquirirá: diga-me o quanto você amou e te direi o quanto você viveu. O porteiro da eternidade olhará para a tua luz que você não vê e olhará a sua cor para saber com os quais você irá habitar. O amor é translúcido na cor, tem um brilho próprio de ser.

O QUE É A FELICIDADE

Você não me faz feliz. A felicidade verdadeira resulta do encontro espiritual da criatura com o Criador. Dizem que o sol ilumina as estrelas, você ilumina os meus olhos; que o sol aquece a terra, você aquece o meu coração. O meu sorriso mais verdadeiro é você quem traz. Também minhas melhores lembranças, meus gestos mais ternos, meus sonhos mais românticos, os momentos de entrega total, a meiguice que eu não sabia que existia em mim. Nas minhas alegrias mais profundas você esteve presente. Você coloriu dias sombrios, noites insones, instantes cinzentos... Fui seu como jamais fui ou serei de ninguém.

Você teve um corpo e uma alma dormindo em seus braços, viajando no seu rosto – a cada acordar, se derramando no seu interior quente, desmaiando no seu peito, a dormir sonhando. Fiz o seu mundo meu e acordei sonhos antigos de ser feliz. Busquei construir um castelo ao seu redor, convidando anjos para lhe sustentarem nas mãos. Sofri a cada lágrima que descia da sua face, exultei a cada sorriso seu, vibrei com cada vitória conquistada, também fiz meus os seus momentos de solidão existencial, compartilhei suas dores. Percebo, agora, que nunca soube falar apenas sentir. Não lhe disse tantas coisas, imaginando que soubesses.

Portanto, não me julgue mal por não conseguir ser o que você esperava que eu fosse, se não posso lhe fazer feliz. Eu, também, senti vazios. Por vezes, me senti só. Embora tentei dar o melhor de mim e você foi o melhor que conseguiu ser nós não temos o poder de fazer alguém feliz. Eu escolhi amar você, o meu amor é meu. Já a felicidade não está retida no meu coração, eu não sou a sua fonte. Talvez ela escolha os corações menos exigentes para fazer morada.


Alberto Magalhães

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A superioridade do amor

A vida, esse fardo que temos que levar sem que o tenhamos encomendado. Uma enigmática dádiva e um difícil caminho é esse sopro que se chama vida. Para onde nos levará? Para a evolução ou para o caos? Devemos ser mais que um instrumento de realização pessoal, contribuindo para a interação interpessoal e a evolução social. A humanidade reside em todos nós. A vida nos fez ser alguém, façamos dela algo significativo para o mundo. Não somos fungo ou bactéria para deteriorarmos o ambiente em que vivemos.

Às vezes somos tão previsíveis na mesquinharia dos sentimentos, nos gostos, nas vontades, nas opiniões, na idolatria (das coisas e pessoas banais), nas caras e bocas. No entanto tantos de nós nos achamos tão especiais. Sem imaginarmos o tanto que somos parecidos. Sucumbimos ante o apelo de tribos e grupos seletos fazendo-nos em “sociedade perfeita”. Fazemos da acepção de pessoas um selo de qualidade e superioridade abolindo a “natureza imperfeita” de outros, como Hitler na teoria da “supremacia da raça ariana” extirpando os homens inferiores. Superioridade? Carregamos impurezas demais no corpo e na alma para tal. Gostamos de representar – atores da vida real - quando o melhor é sermos naturais. Ainda há pessoas do povo que são exploradas, no seu ofício, pelos “superiores” sociais.

O perfume das essências mascara o cheiro natural. A maquiagem mascara as falhas do rosto. A tintura, os cabelos da idade maior. O dinheiro, a pobreza de espírito. As roupas caras, a feiura do coração. O conhecimento, a idiotia comum dos inteligentes e dos ignorantes. A vaidade tenta inutilmente superar as falhas inglórias da natureza humana: os maus costumes do corpo e a indignidade da alma. Todos nós temos muito mais do medíocre que do gênio. O mais simples dos homens foi Jesus, porque era tudo de bom e nunca se vangloriou disso. A tônica da sua vida, entre os homens, foi o amor. Fez-se assim para ganhar a todos. É um ícone universal, admirado por bilhões de pessoas. Ninguém resiste ao amor.

Alberto Magalhães

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A dor nasce do desejo

Tudo o que os nossos olhos veem de interessante o nosso coração deseja. Deus nos dá tudo o que precisamos para viver, tudo o que podemos ter. Mas queremos nos dar mais. Muitas das vezes, de forma incondicional, inconsequente, inescrupulosa.  “A dor nasce do desejo” disse Siddartha Gautama. Mas não de qualquer desejo. Há desejos que só nos exigem deveres, dedicação, cansaço, renúncias, algum sacrifício. Mas há aqueles que nos trazem dissabores, amarguras, frustrações, infelicidade. Estes são aqueles que não eram para serem desejados. E se inevitavelmente desejados, nunca alimentados. Se alimentados, nunca realizados. Porque, ao se realizar, o seu curto sabor de mel ensejará um longo, ou permanente, sabor de fel.

O soldado pintor Adolf Hitler desejou governar a Alemanha e fazer daquele povo uma nação superior em todo o mundo. Para tanto pregou apaixonadamente a qualidade da raça ariana dos alemães, avocando para estes a supremacia racial e o direito à liderança mundial. Nos moldes dos antigos impérios, a exemplo do romano, babilônico, medo, persa, etc. Hitler, em verdade, desejava antes realizar o seu desejo oculto de se tornar superior às demais pessoas a fim de superar a sensação de mediocridade em que estava inserida a sua vida comum e frustrante. Mas o seu desejo causou muito mal. Os resultados dessa aventura mirabolante todos sabem. A consequência dela atingiu centenas de milhões de pessoas mundo a fora.

Foram vários países atacados; dezenas de cidades bombardeadas; milhares de residências, casas comerciais e órgãos públicos destruídos; mais de vinte milhões de pessoas mortas, entre elas seis milhões de judeus foram sacrificados mediante tortura. Famílias foram dizimadas deixando tantos órfãos. Até navios brasileiros que cruzavam a nossa costa foram afundados. Tesouros artísticos foram saqueados. Cidades da Alemanha, Polônia, Itália, etc. ficaram em ruínas, muitos sobreviveram na miséria. O mundo chorou e sofreu essa tragédia. Tudo isso por um povo haver seguido o desejo de um visionário louco. As nações aprenderam muito com esse acontecimento tornando improvável que outra guerra mundial ocorra.

Porém muitas outras tragédias têm ocorrido por causa do desejo. Seja ele de natureza pessoal, financeira, religiosa ou política: no Iraque, por causa de Saddam Hussein. Na Líbia, por causa de Muamar Kadafi. Na Síria por causa de Bashar al-Assad. Os atentados causados pelos ideais religiosos ou libertários dos grupos extremistas que operam pelo terror. No Brasil por causa da corrupção, da delinquência, do desmatamento... Há desejos não revelados de se enriquecer desonestamente, de se praticar infidelidade conjugal, traindo a confiança do outro, de destruir a boa reputação alheia, de exterminar o desafeto... O desejo oculto sempre é egoísta, desagregador, indigno. Faz mal primeiramente a quem o concebe. Depois, aos próximos.

Alberto Magalhães

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Escrever

Era um papel branco e vazio. Surgiu primeiro o E. E daí uma frase. A segunda se iniciou com um S. A terceira com um E. E assim foi linhas a fora. Pouco antes, havia dito pra ela: Você está aqui dentro de mim maior que o mundo que eu avisto, ocupando todos os meus espaços. Mas, também existia o horizonte pleno a me convidar para outras caminhadas. Ficar é morrer aos poucos a cada entardecer. Não morrer de verdade, diga-se a bem da verdade, mas é abrir mão dos múltiplos amanhecer. O sol nasce em posições, brilhos e calores diferentes. Há lugares em que nem nasce. E há, quase sempre, uma revoada de pássaros a brindar o seu surgimento.

Surgiram sete linhas escritas no papel. Os mentirosos dizem que sete é o número da mentira. Ouvi outros dizerem que é o número perfeito. Outros me disseram que a constelação Órion é a morada de Deus, já que estamos falando em perfeição. Alguém dissera que Deus morreu. Outro que Ele não morreu, e sim a esperança de alguns em um Deus que não seja eles próprios. Para alguns Ele nunca “nasceu”. Já nós, nascemos nus e vazios. Quem nos encherá e de quê? Seremos como a árvore de folhas secas ou viçosas? Com flores e frutos ou sem estes? Os filhos são apenas flores, frutos são o que oferecemos a eles e ao mundo.

(Puxa! Surgem mais sete linhas.) No mundo existem coisas interessantes. Uns voam, outros nadam, outros caminham, outros se arrastam. Falo dos bichinhos! Cobra, minhoca... Muitos já me disseram que queriam ser uma águia. Altiva, serena. Passarinho não, porque voa baixo e são devorados. Mas, águia come cobra viva. Seria saboroso o gosto das serpentes venenosas? Um forte veneno foi muito aproveitado, num passado distante, para se beber quando só dores e sofrimento eram companheiros no leito ou por grande desilusão amorosa. Não aconteceu assim a Romeu e Julieta? Sete de novo! Sorrio satisfeito com a inspiração tomando forma.

Inspiração é um bichinho complicado. Ele, às vezes, vem coçando os miolos e crescendo no peito, incomodando até sair. Sai como escultura, tela, poesia, texto... Paridos tantas e tantas vezes quantas forem possíveis. Isso traz alívio e um sorriso de satisfação no pai ou mãe. É claro que uns nascem mais belos que outros. Uns dão bom dia aos passantes, sorriso acolhedor na face. Outros são mais ríspidos, contundentes. Mas, muito necessários, apropriados para certas situações. Preciso parar agora, pôr o bichinho complicado para dormir, até ele voltar a despertar e me acordar de novo da minha letargia vivencial.

Alberto Magalhães.