domingo, 17 de outubro de 2010

O mundo não está melhor

Diante de notícias ruins à nossa volta sempre ouvimos comentários que as coisas estão piorando. Na verdade o mundo não muda pra pior nem pra melhor, fica no meio. Ele caminha nas duas direções. Oscila tempos mais para um lado, tempos mais para o outro. Exemplos de períodos piores foram os das grandes guerras, como os 1º e 2º conflitos mundiais e os de outros anteriormente de igual magnitude para a época que não são computadas, dessa forma, pela história moderna. Invasões de pequenas nações, transformadas em colônias, por outras mais poderosas. Também as grandes epidemias que a saúde, de vários países, sofreu. Crises econômicas e políticas que implantaram, quase ao mesmo tempo, ditaduras governamentais pelo mundo. 

Na outra vertente estão as descobertas de vacinas imunizantes, a libertação de nações do jugo de outras, a democratização de países dominados por militares, o avanço da informática e tecnologia, a ampliação dos direitos humanos no mundo... No entanto, quando menos se espera, algo de ruim surge para a humanidade, como as guerras, por exemplo, sempre originadas por interesses políticos ou econômicos que, ao final, são a mesma coisa. Os americanos saíram do seu continente e - à pretexto de combater  o narcotráfico - instalaram uma base militar na Amazônia e estão se apossando da parte brasileira com seus dólares manchados de sangue oriental.

O mundo caminhou para melhor e para pior, desfruta de uma cultura cíclica de melhora em umas áreas e piora em outras, alternando evolução e atraso. Exemplo disso, atualmente, são o avanço incontido das drogas entre a juventude, da AIDS, a eminência de esgotamento dos recursos naturais e da dilapidação da natureza, a crise familiar, o aumento da criminalidade urbana...

A educação, a cultura, as artes, a igreja, os movimentos sociais progressistas sempre tiveram a capacidade de avivar a consciência individual e coletiva para a preservação dos valores fundamentais da pessoa humana. Sem esses elementos racional espirituais estimuladores da boa consciência humana os homens seriam seres puramente egoístas e perversos. Eles também sofrem essa oscilação cíclica. Esses elementos, associados a um inconsciente e essencial instinto de sobrevivência em grupo, contribuem para a boa convivência da espécie humana. 

O mundo sempre estará melhor e pior para o homem, graças a ele próprio.

Alberto Magalhães

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O culto ao efêmero

Vivemos num bom tempo. Hoje tudo é mais fácil. No entanto tudo é efêmero, corrido, descartável. Não é por culpa da internet, ao contrário, ela é um produto do homem moderno: múltiplo, insatisfeito, superficial. Não mais se busca, como antigamente, o herói mitológico, ideal, paradigmático. Morreram Martin Luther King, Ghandi, Tiradentes.... mas agora não só fisicamente, morreram definitivamente.  Nessa geração Coca-Cola, aficionada pela mídia que canaliza o estrelato para qualquer um – nos realitys shows da vida -, pela TV, pela personificação – às vezes fascista -, nos twiter, blogs, sites, colunas sociais. Hoje se anula – inconscientemente ou convenientemente -, os grandes nomes de outrora. Para que cultuarmos exemplos de um só homem para intermináveis gerações, se o supérfluo nos domina e o efêmero nos fascina? Eles agora morreram ideologicamente, que é o último reduto da existência de um defunto: o imaginário popular. As elites nos ensinam a amar só o dinheiro, a vanglória e o poder; na verdade, a superioridade vã que esses atributos trazem. Mesmo que tão  ilusória e passageira. Todo homem é dúvidas, fragilidade, carne e finitude sempre deprimente. Oh! Glória vazia! Não existe mais a honra, diria o pensador. Ela tornou-se algo ridículo, desnecessário. A palavra empenhada– outrora digna, hoje é ferramenta de embuste e de trapaça, tornada, aos ouvintes, produto  sem o mínimo valor.

O pensamento é hoje utopia dos idealistas. O pensador, o escritor, o poeta são seres a caminho da extinção, como a fauna e a flora. Vivemos noutros tempos. As músicas e brincadeiras de roda foram substituídos pela TV, games e passatempos virtuais no PC. A literatura e a poesia, pelas imagens sensuais de fotos e vídeos. A profundidade, pelo superficial e imediato. A mulher deixou de ser apenas namorada, profissional, esposa e mãe para ser modelo corporal - produto da cultura sensual -, permanentemente. A única via possível  para a mulher se realizar é a beleza física? A lua e a noite estrelada, o amor eterno, o casamento deu lugar aos relacionamentos curtos, de temporada, em busca de vantagem material ou de satisfação da libido. Os filhos que antes eram os frutos do amor, hoje são a sobra do sexo.

As cidades alimentam a proliferação das drogas destruidoras da juventude, a criminalidade crescente, a corrupção incontrolável. Sacrificou-se o respeito ao semelhante pelo materialismo, pela ambição desmedida. O altruísmo da fé, pelo negócio da fé. Os novos, querendo fazer de seus pais marionetes das suas vontades e, cedo, se ofertando às vontades libidinosas dos outros jovens e dos adultos. 

Vivemos o tempo do sucesso social ou do fracasso, não mais do aprendizado humano, nada mais conta. É o tempo do vale tudo, da indecência, da vantagem. As ideologias sucumbiram ante o capital, o individualismo e a unanimidade pragmática burra. Não temos mais líderes respeitados em nenhum segmento. Estamos perdendo a nossa identidade, o nosso desenho pessoal porque perdemos o senso da verdadeira dignidade e dever social.

A espiritualidade, a filosofia, a literatura, as artes, a música estão definhando, pálidas e distantes do coração.

Alberto Magalhães

sábado, 2 de outubro de 2010

Carta a uma amor que se perdeu

O final de um namoro é sempre triste, pelo amor que se foi, e sempre bonito pelas lembranças que ficam. Pena que nem sempre podemos dizer isso do nosso.
E o que dizer de um namoro bloqueado por ordens superiores à razão, vindas de um passado marcado por fantasmas?
E o que dizer de um amor que por, culpa desses fantasmas, permaneceu preso, enclausurado dentro do peito, como se houvesse o temor de deixá-lo escapulir e, assim, tomar conta de tudo?
Posso chamar a isso de covardia? Não, nessa carta não cabem críticas. Afinal,  essa é uma carta de amor e, apesar de tudo, ele  ainda está vivo. Tão vivo que neste exato momento percorre todo o meu corpo e, aquecido, imagino você sorrindo. Nunca lhe disse quanto o seu sorriso é bonito? E por ser raro era, por mim, não só visto como sentido?
Nunca lhe disse que o seu ar de menina  sempre me comovia ao ponto de querer um beijo, cada vez? Em cada sorriso feliz, ou em cada olhar triste? É, não lhe disse tanta coisa! Nem eu podia revelar. Havia aquela parede sempre presente entre nós e o futuro. E, até então, eu não sabia que ela nos separaria definitivamente.
Mágoa...? Enorme! Aquela que se arrasta pegajosa pelas entranhas, inundando todos os cantos do ser. Mas não exatamente de você. Estou agora como que diante de uma porta que se fechou à minha frente, num lugar deserto, sem a chave para abrí-la. Estou sentado ao lado de mim mesmo  como se tivesse contemplando outra pessoa. Essa pessoa que mergulhou de cabeça e corpo num sentimento tão grande, numa alegria invasiva e que agora nem chorar sabe.
Mesmo assim uma latente dor  ataca impiedosamente quando se percebe que a realidade não é reversível. E a única realidade que vale é aquela que foi contada. Que ironia! Já pensou que a realidade que você vive pode ser uma mentira, mas o que importa é que seja a verdade de todos? E a sua verdade quando viverá? Quando deixará de ser o conveniente para ser o eu pleno?
Um dia eu escrevi: “Tornei o seu mundo meu e cativarei todos os nossos maus momentos com flores, para que eles escolham como moradia a minha pessoa e não a sua. Mas isso não foi possível.
Em nome do amor que eu sinto por você, só me resta torcer para que um dia, "por coincidência", o que for decidido faça par com o seu coração.