domingo, 26 de dezembro de 2010

UM ESTRANHO AMOR

Ele era um cara especial para quem o conhecia. Eu tive o prazer de ter a sua amizade. Ele tinha uma dedicada esposa e um casal de filhos e era por eles amado. E os amava profundamente. A sua morte nos deixou uma triste saudade. Um infarto o levou de nós. Um coração como o dele deveria viver para sempre. Ele era natural de São Paulo e viveu mais de vinte anos aqui em Sergipe, desde os seus trinta e poucos anos. No jardim da sua casa nós bebíamos cerveja brahma e conversávamos sobre todas as coisas do mundo, enquanto os cantores da MPB cantavam pra gente. Ele revelava humanidade em todos os seus gestos.

Eu o velei e o enterrei com lágrimas nos olhos e aquela sensação de uma grande perda, que só sentimos quando as pessoas que realmente temos se vão. A sua esposa e filhos ficaram inconsoláveis. Algum tempo depois da sua morte ela me confidenciou que ele não podia gerar filhos. Ela me disse que, apesar disso, o seu sonho era ser pai. Mas eu mesmo a tinha visto grávida ao lado dele por duas vezes e até acompanhei os passos das duas crianças – menina e menino - cuidadas por ambos. Os filhos ela havia gerado com outra pessoa e os ofertara a ele fingindo para o outro que eram do seu marido. Eram de um amante que ela visitava esporadicamente com o intuito de procriar, com a permissão dele.  Ele não queria adotar bebês, preferia que os filhos fossem  a extensão dela. Ele não queria tirar dela esse direito. O  pai amoroso seria ele.  E foi. Ela também revelou a verdade aos filhos. Pouco tempo depois do funeral deixaram a nossa terra, onde  ele havia escolhido para viver até a sua morte. Recentemente ela faleceu, em telefonema um dos seus filhos me disse que foi de tristeza, que nunca a deixou.

Quem conheceu o casal percebia que um amor mútuo os unia. Um profundo, especial e estranho amor. 

Alberto Magalhães

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