sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O culto ao efêmero

Vivemos num bom tempo. Hoje tudo é mais fácil. No entanto tudo é efêmero, corrido, descartável. Não é por culpa da internet, ao contrário, ela é um produto do homem moderno: múltiplo, insatisfeito, superficial. Não mais se busca, como antigamente, o herói mitológico, ideal, paradigmático. Morreram Martin Luther King, Ghandi, Tiradentes.... mas agora não só fisicamente, morreram definitivamente.  Nessa geração Coca-Cola, aficionada pela mídia que canaliza o estrelato para qualquer um – nos realitys shows da vida -, pela TV, pela personificação – às vezes fascista -, nos twiter, blogs, sites, colunas sociais. Hoje se anula – inconscientemente ou convenientemente -, os grandes nomes de outrora. Para que cultuarmos exemplos de um só homem para intermináveis gerações, se o supérfluo nos domina e o efêmero nos fascina? Eles agora morreram ideologicamente, que é o último reduto da existência de um defunto: o imaginário popular. As elites nos ensinam a amar só o dinheiro, a vanglória e o poder; na verdade, a superioridade vã que esses atributos trazem. Mesmo que tão  ilusória e passageira. Todo homem é dúvidas, fragilidade, carne e finitude sempre deprimente. Oh! Glória vazia! Não existe mais a honra, diria o pensador. Ela tornou-se algo ridículo, desnecessário. A palavra empenhada– outrora digna, hoje é ferramenta de embuste e de trapaça, tornada, aos ouvintes, produto  sem o mínimo valor.

O pensamento é hoje utopia dos idealistas. O pensador, o escritor, o poeta são seres a caminho da extinção, como a fauna e a flora. Vivemos noutros tempos. As músicas e brincadeiras de roda foram substituídos pela TV, games e passatempos virtuais no PC. A literatura e a poesia, pelas imagens sensuais de fotos e vídeos. A profundidade, pelo superficial e imediato. A mulher deixou de ser apenas namorada, profissional, esposa e mãe para ser modelo corporal - produto da cultura sensual -, permanentemente. A única via possível  para a mulher se realizar é a beleza física? A lua e a noite estrelada, o amor eterno, o casamento deu lugar aos relacionamentos curtos, de temporada, em busca de vantagem material ou de satisfação da libido. Os filhos que antes eram os frutos do amor, hoje são a sobra do sexo.

As cidades alimentam a proliferação das drogas destruidoras da juventude, a criminalidade crescente, a corrupção incontrolável. Sacrificou-se o respeito ao semelhante pelo materialismo, pela ambição desmedida. O altruísmo da fé, pelo negócio da fé. Os novos, querendo fazer de seus pais marionetes das suas vontades e, cedo, se ofertando às vontades libidinosas dos outros jovens e dos adultos. 

Vivemos o tempo do sucesso social ou do fracasso, não mais do aprendizado humano, nada mais conta. É o tempo do vale tudo, da indecência, da vantagem. As ideologias sucumbiram ante o capital, o individualismo e a unanimidade pragmática burra. Não temos mais líderes respeitados em nenhum segmento. Estamos perdendo a nossa identidade, o nosso desenho pessoal porque perdemos o senso da verdadeira dignidade e dever social.

A espiritualidade, a filosofia, a literatura, as artes, a música estão definhando, pálidas e distantes do coração.

Alberto Magalhães

2 comentários:

  1. Perfeito seu texto Alberto Magalhães, neste tempo em que vivemos os jovens passam por um processo de aculturação, de vazio interior, se deixam levar por futilidades e não possuem senso crítico!
    meu blooger é www.artdevender.com coloquei este nome pois sou estudante de Marketing e Vendas na unisulvirtual.com e microempresário do setor de Farmacia.

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  2. Eu quero ter uma casa no campo para fugir de tudo isso...
    Abraço.

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