sábado, 31 de julho de 2010

Nesta tarde

Uma chuva tímida e insistente caía lá fora, suficiente para fazer eu não sair de casa, ir ver tv, cochilar um pouco - fazendo-me perder o final do filme antigo que assistia - e depois ir me sentar em frente a esse instrumento que acessa o mundo virtual e nos permite guardar as nossas reminiscências, lembrando do passado e imaginando o futuro...

A única coisa realmente nossa é o pensamento. Uma névoa que se forma projetando um longo filme em que temos sido ator e que agora assistimos passivamente, anestesiados pela realidade imutável do que vemos, entre tantas cenas que gostaríamos de reeditar. Não dá mais, as cenas se desvaneceram no tempo mas, infelizmente, ficaram congeladas no imaginário de muitos outros atores que contracenaram. Reeditá-los é tarefa impossível.

E perceber que os papéis nos ofertados eram de coadjuvantes, com falas e gestos convenientes a todos os outros personagens que interagiam naquele set, e os papéis que por nós, depois, foram escolhidos – incorporados - eram de personagens que poderiam ser considerados originais e irreverentes, que improvisam e, às vezes, incomodam, destoando do conjunto enfadonho mas afinado. 

E descobrir, serenamente – embora com um desgosto profundo, que tudo já vivido foi incompleto, quase vão. Construído em cima de bases falsas – as nossas verdades não se tornam a verdade do mundo, tudo apenas fachada do que poderia ter sido completo, mas que por falta de dedicação – o simples gesto de se dar por inteiro, não permitiu a si mesmo completar.

Saber que se tem muito pouco tempo nesse mesmo set não incentiva a uma nova empreitada para fazer as coisas com uma nova cor. Ou se refazer simplesmente todas as coisas. Os problemas do corpo físico, a realidade biológica transcende todas as vontades e impera tiranamente no mundo material. O mundo virtual permite apenas um esboço, um ensaio da vitória da razão sobre as limitações e fraquezas humanas.

Alberto Magalhães

Um comentário:

  1. Alberto,

    Mas as idéias, que são virtuais quando concebidas, alimentam as paredes e os telhados das casas, que mesmo que estejam completos, necessitam de constante reforma.
    Abs.

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