segunda-feira, 5 de julho de 2010

Aprender

(Copiando Veronica Shoffstall, que copiava William Shakespeare)

Entre tantas coisas na vida eu aprendi a trocar as fraldas de meus filhos (foram seis), a fazer, de forma diferente e deliciosa, o cuscuz especial, o ovo temperado e o cachorro quente, a fingir que estou chateado com a vida pra receber algum afago quando estou meio necessitado, aprendi a ceder e fazer alguma concessão, quando algo maior está em jogo, aprendi a me enquadrar quando as coisas estão difíceis, aprendi a dizer não e sim, a preencher – nela - mais a alma que o corpo, para então eu receber mais no corpo e assim agradar minha alma, aprendi a incomodar a quem os “outros” não ousam incomodar (como são ridículos os puxa sacos), aprendi que, às vezes, o amigo que você conquistou hoje será o inimigo de amanhã ou vice-versa (porque o seu antigo desafeto torna-se o inimigo de seu inimigo). Aprendi que o grito quase mudo dos comuns ecoa em algum lugar, em algum coração relevante que foi injustiçado um dia e gera fruto, que as letras dos papéis – da bíblia, das enciclopédias, dos tratados, das cartas dos enamorados - salvariam o mundo da desgraça se fosse isso que quisessem, que só se dá valor a paz quando se prenuncia a guerra, aprendi que tem gente que traz menos alegria que tristeza, que realmente “as virtudes se perdem no interesse como o rio se perde no mar” (François La Rochefoucauld), que as nossas virtudes não absolvem os nossos defeitos, que nos muitos interesses se gera a dor, que devemos dar mais atenção aos que estão perto da gente, que o nosso primeiro e maior inimigo reside dentro de nós, que é melhor ouvir que falar - mas isso nem sempre seguimos, que o conhecimento é o caminho para a auto libertação de tudo que nos prende à involução.

Alberto Magalhães

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