Um grande erro é pensar que a mulher tem mais gosto pelo
diálogo que o homem, no relacionamento conjugal. O que se nota é que a mulher
tem interesse em que o homem escute sempre tudo o que ela tem para falar, e que
a iniciativa e a condução da conversa sempre fiquem ao seu encargo. No entanto
quando chega o dia do homem criticar, ela sempre fica na defensiva, numa
posição de vítima na abordagem. A mulher geralmente se acha atacada e se ofende
por comentários comuns feitos pelo companheiro, geralmente considerando-se
desvalorizada na relação. Por isso as conversas entre os casais são sempre mais
desgastantes psicologicamente para o homem, o que o faz se esquivar dessas
conversas na maior parte das vezes. Já para a mulher o comprometimento nessas
discussões é mais emocional, o que faz o homem geralmente se sentir frustrado e
às vezes até com sentimento de culpa. A mulher geralmente guarda ressentimentos
em desfavor do companheiro por tê-la feito “sofrer” desnecessariamente. E
depois de tantos mal entendidos, intolerância, ressentimentos equivocados,
falta de perdão o relacionamento acaba sem mais sentido. Quem, com honestidade,
aponta os erros no relacionamento se importa com a questão, quer a solução da
demanda, quer melhorar a convivência. Nem sempre alega com o intuito de acusar,
desvalorizar, agredir.
Uma das falhas do ser humano é
rotular o outro por uma característica marcante em sua personalidade e passar a
deduzir que tudo o que ele fala ou faz é decorrente dessa única característica.
Isso é um erro, porque as outras características desse indivíduo em tela,
somadas e em prevalência em certo momento definem muitos de seus gestos e
condutas. Ninguém é só controlador, ou arrogante, ou insensível, ou
interesseiro todo o tempo. Existem coisas que a pessoa é capaz de fazer que não
tenha origem só no seu “lado personalíssimo preponderante”. Essa visão fixa de
uma característica forte numa pessoa faz com que se veja as suas iniciativas tão
somente por esse ângulo, se construindo impressões sempre negativas, já que a
visão que as pessoas adotam como uma característica que define uma pessoa é
sempre aquela que incomoda ao observador e nem sempre é a característica principal
da pessoa observada.
Uma das coisas que serve de ingrediente para a falta de
entendimento nas questões aqui abordadas é que em verdade o ser humano (ente
conjugal) não tem condições de suprir todas as carências ou de administrar decisivamente
as deficiências do outro. Acontece, por vezes, que no momento em que um vai
desprender carinho e atenção para o outro, este não está disponível por alguma
razão. Não tem tempo, disposição física, emocional e/ou psicológica naquele
momento. Embora esteja longe de abrir mão disso no restante das oportunidades.
Mas a pessoa que ofertou aquela benesse sente-se injustiçada, quando não
desvalorizada ou não amada. Isso cria insatisfação em uma das partes que
certamente vai atingir a outra e criar uma instabilidade emocional e
psicológica em ambos. Ocorre que na hora em que a parte inocente na questão (suscitada
no interior da pessoa contrariada) estiver a esperar a resposta afetiva do
outro, ela não vai chegar ou vai chegar distorcida, incompleta, vazia de
verdade, insuficiente. Dolorosamente frustrante.
Então estará instalada uma verdadeira crise entre ambos,
permeada por dúvidas, sentimentos de desamor, desconfianças. A autoestima será
em parte esvaziada, dando lugar para se ocupar esse espaço com o orgulho,
disfarçado de amor próprio.
Alberto Magalhães